quarta-feira, 11 de maio de 2011

Enquanto relia seus pequenos cadernos verdes.

Como traduzir o silêncio do encontro real entre nós dois?
Clarice Linspector

Sentada e ajeitando as saias (como fazia sua personagem), convidou-se a moça a uma conversa.
Clarice Clarice, e ela de novo a me assombrar.
Se era clichê? Sim, sim... por vezes sentia-se assim. E era esse medo de tornar a se repetir que lhe assombrava nas últimas semanas.
Medo infundado, ria, porque a gente precisa fazer muita força para conseguir se repetir igualzinho no fim.
Rindo de novo, pensou que no fim "é mesmo uma pena que as coisas não se repitam.
Já pensou? os primeiros 100m pedalados sem ajuda das rodinhas; o primeiro feijão que virou planta e a primeira vez de qualquer outra coisa, de novo?"

Mas precisava recomeçar de alguma forma. Vontade, vontades e coisa boa. Andavam de noite na rua, batucadas, copos nas mãos. Na outra página o manual de normalização aberto, o caderno sobre a mesa, a dor no ombro e o iogurte que faziam em casa. De dia perdia-se entre as amostras e de noite encontrava-se nos papéis.

A propósito: tinha ela passado o dia inteiro lembrando do cheiro das casas onde tinha morado nos últimos anos. Horas e horas se divertindo sozinha com as paixões que inventava de mentira, e as saudades que sentia de verdade.

Fim.
(Provisório. Até que um melhor apareça.)

Arquivo do blog